Embora vedada a atividade político partidária aos juízes, como corolário do dever de independência, não há restrições ao exercício da cidadania. Por isso, não tendo exercido as funções eleitorias e, passado o pleito, resolvi, ante a alguns acontecimentos, declarar em quem votei para Presidente no texto que segue, o qual analisa, em verdade, a distribuição de votos em meio ao preconceito mais ignorante.
Neofacistas espalhados pelo grande lixo existente na rede mundial de computadores postaram mensagens infamantes contra os nordestinos em razão da vitória de Dilma Rousseff. Para além do crime de racismo (vejam o artigo 20, §§ 1º, 2º e 3º da Lei 7.716 de 05 de janeiro de 1989) – que a polícia tem a obrigação de apurar –, as veiculações demonstram a ignorância destes imbecis. Dados do Tribunal Superior Eleitoral revelam que a candidata petista ganharia a eleição mesmo se fossem computados, exclusivamente, os votos do Sudeste e do Sul. Pois bem, contando-se apenas os votos do Sudeste, a região mais rica do Brasil, Dilma seria eleita com uma diferença de mais de 1.500.000 (um milhão e meio de votos). Somados os votos do Sudeste com os votos do Sul e do Centro-Oeste, as duas únicas regiões do Brasil onde Serra ganhou, ainda assim ele perderia. Ou seja, a região mais rica do Brasil deu a vitória à Dilma sem necessidade do Norte ou do Nordeste.
Para fazer uma comparação mais específica: em Alagoas, um dos estados mais pobres da federação, Dilma obteve 53,63% dos votos válidos, contra 46,37% de José Serra. Já no Rio de Janeiro, seguramente o segundo estado mais rico do Brasil, Dilma obteve 60.48%, contra, somente, 39,52% de José Serra. Na capital das Alagoas, Maceió, Serra venceu com 60,80%, contra, tão só, 39,20% para Dilma. Na capital carioca, deu-se exatamente o inverso, Dilma venceu com 60,99%, contra 39,01% de José Serra. Detalhe: o Rio conta com um eleitorado de mais de 11.500.000 eleitores. O colégio eleitoral alagoano possui pouco mais de 2.000.000 de eleitores.
Mesmo em Santa Catarina, tradicional reduto do PFL – hoje cognominado Democratas –, houve significativas divisões como mostra o mapa abaixo, com Dilma vencendo em cidades importantes como Chapecó:
Fonte: Visão em Foco
É preciso não cair nas malhas da ingenuidade de algumas idéias maniqueístas espalhadas na internet por “cientistas políticos” de primeira viagem, ou pior, por jornalistas pagos por conhecidos setores da mídia tradicional para lançar as contagiosas teses pega-otários. Não podemos confundir eleições com cordões azuis e encarnados do pastoril, ou com as paixões emanadas dos jogos de futebol. Serra e Dilma têm, por obvio, defeitos e qualidades e o projeto político de ambos é só, e tão só, um pouco diferente. Entre seus correligionários, há pessoas decentes e há canalhas, infelizmente não há termômetro para medir o quantum. Ambos, parece-me, são quadros competentes.
Votei na Dilma porque entendo positivas as ações do atual governo. Entre os prós e os contra os primeiros se destacaram mais. Dilma significa uma continuação de políticas públicas que estão tornando o Brasil um país menos miserável e muito mais destacado no cenário internacional. As bases econômicas, não podemos ser tolos, seriam as mesmas com um ou com outro. Para as universidades e escolas técnicas federais, o que interessa aqui em particular, a vitória de Dilma representa o avanço, tanto na política de expansão, quanto na remuneratória e até mesmo, embora com maior discrição, na qualidade de ensino.
Com 18 anos de magistratura e 14 de ensino superior, possuindo doutorado e mestrado, votei na Dilma acompanhado por mais de 55 milhões de compatriotas do Oiapoque ao Chuí. Para além, junto a 80% do eleitorado brasileiro, entendo que Luís Inácio Lula da Silva faz um bom governo e, com seu impressionante carisma, fosse ele o candidato, a vitória seria acachapante. Por isso, é estúpido supor que os votos dados ao Serra são votos contra o Lula.
Dilma é, agora, a Presidente eleita de todos os brasileiros. Oxalá faça um bom governo e que tenha oposições vigilantes, fiscalizadoras e participativas, essenciais na democracia, especialmente para impor limites ao Poder. Caminhamos, creio, para um país melhor. A história dirá, o resto é trololó.
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