O artigo que segue é da coluna do Vinicius Mota e foi extraído do jornal Folha de São Paulo. Ele trata do "partido da violência" e me chamou atenção que até os ditos "movimentos anarquistas", ou "neoanarquistas" - para ficar com o autor do texto -, segue a macaqueação geral dos brasileiros: a adoração por expressões inglesas para batizar de tudo.
O agrupamento de preto ama, no fundo, os "fast foods", para ser coerente com as locuções tão ao gosto tupiniquim: destroem a noite a "MacDonald's", mas não sem antes tomar "coke" - que na verdade só tem "ice" - combinada com um velho e pasteurizado "Bic Mac", afinal é preciso proteína para o "mortal kombat".
Se os nossos prédios se chamam "Tower Center", se nossos escritórios são "offices", os executivos os "ceos" e até as simples camisetas passaram a denominar-se "T-shirts", nossos jovens e deslumbrados "anarquistas", tinham que ser "blak bloc", até porque o nome em português não soaria nada "fashion" e certamente não produziria o efeito desejado na sociedade do espetáculo, aquela onde o imbecil leva o celular para fazer o registro próprio, achando-se protagonista da história na festa que inventa para si e seus colegas dos "facebooks" a "instagrams".
O PARTIDO DA VIOLÊNCIA
"Depois de quatro décadas, a violência voltou a ser
reivindicada como meio válido de fazer política no Brasil. Um neoanarquismo
difuso e mal letrado encontra na estampa importada "black bloc" um
meio de expressar a sua fúria.
O ataque contra policiais passa a ser estimulado. O espancamento do coronel
da PM paulista Reynaldo Simões Rossi, nesta sexta, não foi ato fortuito nem
isolado.
Os "black blocs" são poucos, decerto. Condenam os seus métodos 95
de cada 100 paulistanos. Essa recidiva da brutalidade política, porém, não
nasce do nada.
Nutre-se de um pensamento de esquerda - bem situado na academia e no
Estado - que há décadas demoniza a polícia, em especial a militar. Para essa
elite influente, quase 30 anos de democracia não bastaram para retirar de toda
repressão policial a mácula preliminar do autoritarismo.
O Partido da Violência se vale também da passividade do poder público diante
de violações em nome de causas sociais. Que fundada indignação motive os abusos
é algo que o sociólogo pode interpretar. Ao promotor, ao juiz e ao governante
cabe restaurar a ordem e punir os violadores.
Outro substrato para a brotação de grupos violentos são as frequentes
demonstrações de intolerância de pensamento. Aconteceu na Bahia, neste sábado,
quando 30 militantes impediram, na base da intimidação, debates com
intelectuais que não partilham de suas ideias.
Protomilícias se espalham pelo país. Grupelhos bloqueiam vias importantes
das cidades, invadem e depredam reitorias universitárias e impedem as aulas.
Minorias que mal cabem numa van dão-se o direito de prejudicar a grande
maioria.
O grupo "black bloc" é apenas o último rebento dessa linhagem de
tiranias privadas. Como seus símiles, é tributário do desgaste metodicamente
provocado nas instituições repressivas do Estado e no valor civilizatório da
lei."
2 comentários:
"Sociedade do espetáculo". Denominação perfeita.
Abraços, Dr. Alberto!
Não que eu seja admirador de Proudhon ou de Bakunin, nem tampouco da sua teoria anarquista (tão célebre quanto a infantil teoria marxista), mas é uma ofensa ao anarquismo o fato de esses "jovens" (em geral com mais de 25 anos e sustentados pelos pais) associarem seus nomes a essa teoria.
Pois uma parte não passa de "imbecis juvenis", como diria Olavo de Carvalho, descontando no alheio a raiva por não ser aceito pelos "leões" das rodas de adolescentes e jovens-adultos; e o restante se traduz em marginais que, por cursarem faculdades ou ensino médio, mudam sua classificação de "criminosos" para "ativistas sociais".
É o resultado de um governo frouxo, que se utiliza das benesses de uma constituição que, embora louvável, é fruto de um irracional medo pós-ditatorial legislativo e judiciário.
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