segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

UMA CANÇÃO QUE NÃO PODEMOS ESQUECER EM 2013


Em 2012 começamos a vivenciar o “admirável mundo novo”: transformações sociais com novos arranjos, comunicações instantâneas, tecnologias que nos permitiram chegar ao que antes só a imaginação concebia. Mas, continuamos nossa jornada com a indelével imperfeição humana: vivenciamos, também, o tempo do individualismo galopante de vertente hedonista-narcisista e do juvenismo, que nos vende a ideia de que é possível e desejável viver em perpétua adolescência. Isso é tolice, comparadas às guerras estúpidas e as divisões de sempre (de fronteiras, raças, etnias, economias, finanças...) que parecem não ter fim.  

No distante maio 1886, trabalhadores de Chicago protestavam pacificamente por uma jornada de trabalho de 8 horas diárias, quando a força pública abriu fogo contra eles por conta da explosão de uma bomba que matou um policial (o caso lembra muito o do Riocentro de 1981). Resultado, 11 manifestantes mortos, dezenas de feridos e um processo manipulado acusando um grupo de anarquistas pelo acionamento do artefato. Quatro deles foram enforcados e um suicidou-se na prisão. Sete anos mais tarde, o governo concluiu que eles eram inocentes e aqueles que estavam cumprindo pena de prisão foram soltos. 

Há um século, portanto, e não obstante tantas conquistas, continua atual a canção, podemos dizer da (in)justiça, de Edgar Lee Masters, intitulada CARL Hamblin (Spoon River Anthology (1915) – No Brasil o poema pode ser encontrado na “Antologia da Nova Poesia Norte-americana”, publicada pela Civilização Brasileira, com tradução de Jorge Wanderley) e feita em homenagem aos mártires anarquistas. Nunca é demais lembra-la, especialmente para os que fazem a justiça (advogados, juízes, ministério público, acadêmicos etc) quando se iniciam os novos ciclos: 

“Vi uma bela mulher com os olhos vendados num pedestal, nos degraus de um templo de mármore. / As multidões passavam diante dela dirigindo-lhe uma olhar de quem implora. / Na mão esquerda ela sustentava uma espada. / Ela a brandia golpeando ora uma criança, ora um trabalhador, / ora uma mulher que se esquivava, ora um lunático. / Na mão direita ela sustentava uma balança: Na balança eram jogadas moedas de ouro por aqueles que escapavam ao golpe da espada. / Um homem, com uma toga preta, leu de um manuscrito: ela não respeita as pessoas. / Então um jovem que usava boné vermelho pulou para o lado dela e arrebatou-lhe a venda. / Ah, as pestanas haviam sido comidas das pálpebras lodosas; / os olhos estavam cauterizados por um visgo leitoso: a loucura de uma alma estertorante estava gravada em sua face… / Mas a multidão ficou sabendo por que ela usava a venda”.

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