Em 2012 começamos a vivenciar o “admirável mundo
novo”: transformações sociais com novos arranjos, comunicações instantâneas, tecnologias
que nos permitiram chegar ao que antes só a imaginação concebia. Mas, continuamos
nossa jornada com a indelével imperfeição humana: vivenciamos, também, o tempo
do individualismo galopante de vertente hedonista-narcisista e do juvenismo, que nos vende a ideia de que
é possível e desejável viver em perpétua adolescência. Isso é tolice, comparadas
às guerras estúpidas e as divisões de sempre (de fronteiras, raças, etnias, economias,
finanças...) que parecem não ter fim.
No
distante maio 1886, trabalhadores de Chicago protestavam pacificamente por uma
jornada de trabalho de 8 horas diárias, quando a força pública abriu fogo
contra eles por conta da explosão de uma bomba que matou um policial (o caso lembra muito o do Riocentro de 1981).
Resultado, 11 manifestantes mortos, dezenas de feridos e um processo manipulado
acusando um grupo de anarquistas pelo acionamento do artefato. Quatro deles
foram enforcados e um suicidou-se na prisão. Sete anos mais tarde, o governo
concluiu que eles eram inocentes e aqueles que estavam cumprindo pena de prisão
foram soltos.
Há um
século, portanto, e não obstante tantas conquistas, continua atual a canção,
podemos dizer da (in)justiça, de Edgar Lee Masters, intitulada CARL Hamblin (Spoon River Anthology (1915) – No Brasil o poema pode
ser encontrado na “Antologia da Nova Poesia Norte-americana”,
publicada pela Civilização Brasileira, com tradução de Jorge Wanderley)
e feita em homenagem aos mártires anarquistas. Nunca é demais lembra-la,
especialmente para os que fazem a justiça (advogados, juízes, ministério
público, acadêmicos etc) quando se iniciam os novos ciclos:
“Vi uma bela mulher com os olhos vendados num
pedestal, nos degraus de um templo de mármore. / As multidões passavam diante
dela dirigindo-lhe uma olhar de quem implora. / Na mão esquerda ela sustentava
uma espada. / Ela a brandia golpeando ora uma criança, ora um trabalhador, / ora
uma mulher que se esquivava, ora um lunático. / Na mão direita ela sustentava
uma balança: Na balança eram jogadas moedas de ouro por aqueles que escapavam
ao golpe da espada. / Um homem, com uma toga preta, leu de um manuscrito: ela
não respeita as pessoas. / Então um jovem que usava boné vermelho pulou para o
lado dela e arrebatou-lhe a venda. / Ah, as pestanas haviam sido comidas das
pálpebras lodosas; / os olhos estavam cauterizados por um visgo leitoso: a loucura
de uma alma estertorante estava gravada em sua face… / Mas a multidão ficou
sabendo por que ela usava a venda”.