Muitos me perguntam por que sou amigo
de determinadas pessoas. Enxergam-me diferente delas, me veem distantes por
razões das mais diversas, como se cada um de nós não fosse em si um universo.
Meus amigos são poucos e os tenho
sempre, para fazer valer a mística do cancioneiro de Minas, guardados em meu
coração. Muitos daqueles que conheço são colegas, uma expressão que usamos
para as pessoas que convivem conosco – presentes afinidades
fundamentais para convivência – por força das circunstâncias: trabalho,
estudo, hobbys, interesses comuns enfim.
Mas, os meus amigos são meus
amigos independente do que achem os outros. Não tenho obrigações com os lugares
comuns. Sou desobediente às prescrições medíocres dos aforismos puritanos, tampouco
devo satisfações aos pretensos moralistas, típicos da província do engenho. Como escolho, então, meus
amigos? Ah
"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam … dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois aos vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei que a “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril."
Ps. O texto (entre aspas) é do Oscar Wilde ("Loucos e Santos") interpretado, abaixo, por Antônio Abujamra.
Um comentário:
Então, que seja assim amizade, fruto do agir e sem pensar na consequência. Viver.
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