sábado, 24 de novembro de 2012

GUARANI KAIOWÁ E O RIDÍCULO NA INTERNET



LUIZ FELIPE PONDÉ 

As redes sociais são mesmo a maior vitrine da humanidade, nelas vemos sua rara inteligência e sua quase hegemônica banalidade. A moda agora é “assinar” sobrenomes indígenas no Facebook. Qualquer defesa de um modo de vida neolítico no Face é atestado de indigência mental.

As redes sociais são um dos maiores frutos da civilização ocidental. Não se “extrai” Macintosh dos povos da floresta; ao contrário, os povos da floresta querem desconto estatal para comprar Macintosh. E quem paga esses descontos somos nós.

Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.

Desejo tudo de bom para nossos compatriotas indígenas. Não acho que devemos nada a eles. A humanidade sempre operou por contágio, contaminação e assimilação entre as culturas. Apenas hoje em dia equivocados de todos os tipos afirmam o contrário como modo de afetação ética.

Desejo que eles arrumem trabalho, paguem impostos como nós e deixem de ser dependentes do Estado. Sou contra parques temáticos culturais (reservas) que incentivam dependência estatal e vícios típicos de quem só tem direitos e nenhum dever. Adultos condenados a infância moral seguramente viram pessoas de mau-caráter com o tempo.

Recentemente, numa conversa profissional, surgiu a questão do porquê o mundo hoje tenderia à banalidade e ao ridículo. A resposta me parece simples: porque a banalidade e o ridículo foram dados a nós seres humanos em grandes quantidades e, por isso, quando muitos de nós se juntam, a banalidade e o ridículo se impõem como paisagem da alma. O ridículo é uma das caras da democracia.

O poeta russo Joseph Brodsky no seu ensaio “Discurso Inaugural”, parte da coletânea “Menos que Um” (Cia. das Letras; esgotado), diz que os maus sentimentos são os mais comuns na humanidade; por isso, quando a humanidade se reúne em bandos, a tendência é a de que os maus sentimentos nos sufoquem. Eu digo a mesma coisa da banalidade e do ridículo. A mediocridade só anda em bando.
Este fenômeno dos “índios de Perdizes” é um atestado dessa banalidade, desse ridículo e dessa mediocridade.

 Por isso, apesar de as redes sociais servirem para muita coisa, entre elas coisas boas, na maior parte do tempo elas são o espelho social do ridículo na sua forma mais obscena.

O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu “sobrenome” no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?

Filosoficamente, a causa é descendente dos delírios do Rousseau e seu bom selvagem. O Rousseau e o Marx atrasaram a humanidade em mil anos. Mas, a favor do filósofo da vaidade, Rousseau, o homem que amava a humanidade, mas detestava seus semelhantes (inclusive mulher e filhos que abandonou para se preocupar em salvar o mundo enquanto vivia às custas das marquesas), há o fato de que ele nunca disse que os aborígenes seriam esse bom selvagem. O bom selvagem dele era um “conceito”? Um “mito”, sua releitura de Adão e Eva.

Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu “sobrenome” no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm.

Elas não entendem que índios são gente como todo mundo. Na Rio+20 ficou claro que alguns continuam pobres e miseráveis enquanto outros conseguiram grandes negócios com europeus que, no fundo, querem meter a mão na Amazônia e perceberam que muitos índios aceitariam facilmente um “passaporte” da comunidade europeia em troca de grana. Quanto mais iPad e Macintosh dentro desses parques temáticos culturais melhor para falar mal da “opressão social”.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

NAS ELEIÇÕES AMERICANAS, OS EUA SÃO OS DERROTADOS

 




Jornais Internacionais - Der Spiegel  Por Jakob Augstein (07.11.2012) - Tradução: Deborah Weinberg)

  • Bandeira norte-americana é vista em frente a incêndio na região de Oak Hills, na Califórnia (EUA) Bandeira norte-americana é vista em frente a incêndio na região de Oak Hills.
O Exército dos Estados Unidos está desenvolvendo uma arma que pode alcançar –e destruir- qualquer ponto da Terra em uma hora. Ao mesmo tempo, as linhas de energia, sustentadas por postes de madeira, estão penduradas pelas ruas do Brooklyn, Queens e Nova Jersey. O furacão Sandy as derrubou em várias comunidades da Costa Leste na semana passada, e muitos locais permanecem sem energia. Esse é os EUA, onde as opções de alta tecnologia estão disponíveis apenas para a elite, e o resto vive em condições comparáveis às de uma nação em desenvolvimento. Nenhum país produziu mais vencedores do Prêmio Nobel, mas, ainda assim, os hospitais da cidade de Nova York tiveram que ser evacuados durante a tempestade porque seus geradores de emergência não funcionaram direito.

Quem entende isso como contradição é porque não percebeu o fato de que os EUA são o país do capitalismo total. Seus funcionários não precisam de hospitais públicos ou de um fornecimento de energia confiável para suas residências. A elite tem sua própria infraestrutura. O capitalismo total, contudo, deixou a sociedade americana em ruínas e aleijou o governo. O destino dos EUA não é apenas um acidente produzido pelo sistema. É uma consequência desse sistema. Obama não conseguiu mudar isso, e Romney não seria capaz tampouco. A Europa está errada se entende as eleições como uma escolha entre as forças do bem e do mal. E certamente não é uma possibilidade de mudança de direção política, como alguns jornais europeus querem nos fazer crer.

Romney, o empresário excessivamente rico, e Obama, o culto advogado dos direitos civis, são duas faces de um sistema político que não tem muito mais a ver com a democracia da forma como a compreendemos. A democracia é sobre escolhas, mas os americanos de fato não têm muita escolha. Obama provou isso. Quando ele assumiu o cargo, há quase quatro anos, parecia um novo começo para os EUA. Mas isso foi um engano. Obama não fechou o campo de detenção da Baía de Guantanamo, nem suspendeu a imunidade para criminosos de guerra da era Bush, nem regulou os mercados financeiros, e a mudança climática quase não foi discutida durante a atual campanha eleitoral.  As pessoas –assim como o presidente- estão impotentes diante do poder dos militares, dos bancos, da indústria.
Nem mesmo os “credit default swaps”, o tipo de investimento que derrubou o Lehman Brothers e levou as economias ocidentais para o precipício, foram proibidos ou pelo menos regulados. É provável que Obama quisesse fazer mais, só que não pôde. Mas qual papel isso tudo tem em uma visão mais ampla?

- Crianças seguram pôster do presidente reeleito dos Estados Unidos, Barack Obama, na escola onde o democrata estudou na infância, em Jacarta, na Indonésia AP Photo


Queremos acreditar que Obama fracassou por causa dos conservadores dentro de seu próprio país. De fato, os fanáticos dos quais Mitt Romney depende defenestraram tudo o que distingue o Ocidente: a ciência e a lógica, a razão e a moderação, até mesmo a simples decência. Eles odeiam os homossexuais, os fracos e o Estado. Eles oprimem as mulheres e perseguem os imigrantes. São tão moralistas em relação ao aborto que nem poupam as vítimas de estupro. São o taleban do Ocidente.

Ainda assim, são apenas um sintoma do fracasso dos EUA, não a causa. Em realidade, nem os idealistas democratas, nem os idiotas úteis do Tea Party têm qualquer poder sobre as circunstâncias.
Da perspectiva da Europa, não importa quem vencerá esta eleição. Somente a política externa dos EUA importa para nós –e Obama não é nenhuma pomba, e Romney não é nenhuma águia. O presidente atual prefere travar suas guerras com sondas não tripuladas no lugar de tropas, apesar das vítimas provavelmente não se importarem se forem mortas por um homem ou por uma máquina. Enquanto isso, a despeito de todas as críticas, o oponente na campanha diz que não se uniria a Israel se o país entrasse em guerra com o Irã, porque os EUA atualmente não podem mais sustentar algo assim.

De qualquer forma, está errado caracterizar os republicanos como o partido dos que gostam de guerra e os democratas como o partido da paz – ou mesmo chamar este último de partido de esquerda. Afinal, foram os presidente democratas Harry S. Truman, John F. Kennedy e Lyndon Johnson que começaram as guerras na Coreia e no Vietnã. Os presidentes republicanos Dwight D. Eisenhower e Richard Nixon terminaram essas guerras. E Ronald Reagan, que os europeus veem como a personificação do mal e dos aspectos absurdos da política norte-americana, era um homem pacífico, se comparado com os padrões aos quais desde então nos acostumamos. Ele só invadiu Granada.

A verdade é que simplesmente não entendemos mais os EUA. Olhando para os EUA a partir da Alemanha e da Europa, vemos uma cultura estrangeira. O sistema político está nas mãos dos grandes empresas e seus lobistas. O sistema de freios e contrapesos fracassou. E uma mistura perversa de irresponsabilidade, ambição e zelo religioso dominam a opinião pública. A queda do império norte-americano começou. Talvez os cidadãos do país não conseguissem detê-la, não importa o quanto tentassem. Mas não estão nem tentando.