terça-feira, 12 de junho de 2012

A 17ª VARA E A CRIMINALIDADE DOS PODEROSOS

O artigo que segue foi publicado no matutino Gazeta de Alagoas do dia 10 de junho de 2012 e trata, mais uma vez, da criminalidade em Alagoas e da 17a Vara Criminal. 
 
Nosso Estado, nos últimos anos, vem ostentando índices inimagináveis de violência – os homicídios, entre nós, são endêmicos –, violência caracterizada como decorrente do crescimento desorganizado dos centros urbanos, da erronia das políticas públicas e de múltiplos problemas sociais. Teremos que minimizá-los para poder reduzir a níveis toleráveis este tipo de criminalidade. Disso ninguém duvida. Atribuir, porém, a existência de delitos apenas por conta da pobreza é uma cantilena antiga, usada, hoje, mais para confundir do que explicar. 

Em Alagoas, no entanto, sempre existiu uma outra violência, escamoteada e protegida pelo Poder Público, a violência da criminalidade dos poderosos que matavam e mandavam  matar, que surrupiavam os dinheiros e os bens públicos, que ameaçavam e constrangiam às autoridades, que compravam,  com pouca monta, os seus serviçais, os bajuladores e os corrompidos, na mais absoluta impunidade. E aí começa a história da 17ª Vara Criminal e a explicação do apoio a ela pelos setores engajados e midiáticos.

A 17ª Vara aparece a partir da experiência da Central de Inquéritos, criada para conter as intimidações desta criminalidade aos agentes sérios que integravam o Sistema de Justiça Criminal. A expressão “Núcleo de Combate ao Crime Organizado” foi dada pela imprensa, e sem erronia pois qualquer anteparo destinado a desmantelar a delinquência, inclusive no Judiciário, evidencia-se como um enfrentamento a ela e não aos acusados. É estultice supor que, por conta da cognominação, os Juízes seriam imparciais e uma espécie de longa manus da polícia. No processo, o magistrado é um órgão suprapartes e qualquer profissional da área conhece as exceções destinadas a enfrentar seu impedimento e suspeição. A ideia da Central era decidir as cautelares nos inquéritos em que figuravam estes criminosos, embora fosse necessário mais: o julgamento dos crimes de powerful.   

O Tribunal de Justiça, assim, aproveitando Recomendação do CNJ, encaminhou para o Legislativo o projeto que fez nascer a 17ª Vara. A Unidade Judiciária, então, se fez forte e, com a decisão do Supremo, permanece mais vigorosa que nunca. Seus Juízes trabalham, desde o início, com casos difíceis, envolvendo, tantas vezes, autoridades públicas e pessoas com influência política e econômica. Sentem na pele, como qualquer Juiz Criminal sente, as agruras do processo. Veem testemunhas sendo ameaçadas, verificam tentativas de cooptação, amargam o sofrimento dos seus familiares, a desgraça das vítimas e a apreensão extática da coletividade. Mas, precisam agir e o fazem quando necessário. Mesmo contrariando os interesses escusos – não raro camuflados em tecnicismos artificiosos para impressionar os incautos e servir de escudo aos canalhas –, os magistrados prendem, julgam e condenam. 

Não são melhores que ninguém por isso. Cumprem seu ofício, como também cumprem quando soltam, julgam e absolvem. Se eles erram, resta  o caminho infinito dos recursos. Se um ou outro é autoritário, cabe a senda correicional. Nenhum deles é herói, tampouco semideus, como querem alguns representar, ardilosamente, a ideia de autoridade ínsita ao Juiz. São, sim, agentes públicos, expressão da soberania estatal, detentores de uma função imprescindível à pacificação social. É por isso que se exige respeito e não serão toleradas as críticas que derraparem para molecagem ou tiverem o propósito de desabonar suas imagens. 

A magistratura, toda ela, não está livre das avaliações desfavoráveis, dos desacertos e até da prática de crimes, posto que feita de homens. Mas, enquanto instituição, é uma garantia que necessita ser preservada e qualquer um de nós dela pode precisar. Uma garantia para o próprio réu contra a selvageria sanguinária da revolta popular, contra a vingança privada e as milícias, contra a barbárie que insiste em permanecer entre nós e atinge mesmo, suprema ironia, os criminosos de poder e o seu séquito falante.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A "VERDADE" DOS CRIMINOSOS


Quem não sabe a verdade, dizia Brecht, “é apenas um imbecil. Mas, quem a sabe e chama de mentira é um criminoso”. Dele não podemos esperar senão uma “espécie de falsificação” consistente, segundo Proust, “em ter a ousadia de proclamar a verdade, mas acompanhando-a em boa proporção de algumas mentiras que a adulteram”.