sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

JESUS E CHE


 No final de 2010, é impossível não se deixar contaminar com tudo que significa o natal, especialmente, para os cristãos, com o nascimento do messias. Esse homem extraordinário marcou profundamente a humanidade com sua mensagem de um amor revolucionário que abomina os hipócritas: “ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem para serdes filhos de vosso Pai, pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.
Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicanos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?” (Mateus, Capítulo 5, versículos 40 a 47).
 Mas, nesta época, também recordo do Che e explico: quando adolescente, no quarto que dividia com o meu irmão, havia, na parede, dois pôsteres: de um lado, Jesus; do outro, Guevara. Imaginava-os, como ainda os imagino, bem parecidos, nada obstante já soubesse que suas revoluções foram pautadas por métodos bem diferentes. O texto que segue é do Eduardo Galeano, extraído da trilogia “Memórias do Fogo – O Século do Vento”, um espetacular registro histórico da América Latina. Nele, acredito que o leitor vai concordar, é possível perceber as semelhanças entre Jesus e Che. Com ele, hoje, não só recordo um tempo em que sonhava mais, como encerro as atividades do blog neste ano e transmito a todos o meu desejo de um mundo melhor, algo que, convenhamos, Jesus e Guevara, também, sonharam.     
                                   "1967 – Higueras – Os sinos dobram por ele

Morreu em 1967, na Bolívia, porque se enganou de hora e de lugar, de ritmo e de maneira? Ou morreu nunca, em nenhum lugar, porque não se enganou no que de verdade vale para todas as horas e lugares e ritmos e maneiras?

Acreditava que é preciso defender-se das armadilhas da cobiça, sem jamais baixar a guarda. Quando era presidente do Banco Nacional de Cuba, assinava Che nas notas, para debochar do dinheiro. Por amor às pessoas desprezava as coisas. Doente está o mundo, acreditava ele, onde ter e ser significavam a mesma coisa. Nunca guardou nada para si, nem pediu nada nunca. Viver é se dar, acreditava; e se deu."