Em Alagoas, há vidas secas que as cheias, mais uma vez, tornaram-nas visíveis. A enxurrada dos rios, tal qual uma tsunami, sacudiram não só as miseráveis cidades alagadas e destruídas, mas um Brasil adormecido, “eternamente em berço esplêndido”, para a miséria nordestina. As águas, à medida que devastavam as casas, denunciavam a pobreza daquela gente resignada, espremida nas margens dos rios pelas cercas crescentes dos latifúndios. Em Alagoas cerca de cinqüenta famílias detêm 80% das terras agricultáveis.
“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos...” Hoje choram pela catástrofe das águas, pela perda de tão poucos bens. Longe, de Brasília, o anúncio de liberação de cestas básicas e milhões em verbas para a reconstrução, ecoa nos ouvidos ávidos dos urubus da “política”, já prontos, logo na época de eleição, para o ritual de fisiologismo e corrupção que, juntamente com a incompetência, explicam bem as secas e as cheias, ainda que estejamos fartos deste discurso e ele nos pareça, mais que nunca, piegas.
“Vidas Secas” foi publicada há 72 anos. Abaixo um dos “portais” de Quebrangulo, terra natal de Graciliano, antes da tsunami que, praticamente, destruiu a pequena cidade e um vídeo, depois do enxurro, sobre a casa onde nasceu o escritor e sobre a biblioteca que leva seu nome. Os créditos são, respectivamente, de Evandro Teixeira e da UOL.